Resenha: A Voz do Brejo
O livro “A Voz do Brejo”, da poetiza Indy Sales, reúne diversos poemas sombrios que nos levam a explorar seus pensamentos insanos e decadentes. Frases que certamente levarão muitos leitores a se identificar com seus sentimentos e experiências.

A proposta da obra é um aviso do que está por vir nas próximas páginas, e isso é parcialmente resumido na frase que nós encontramos logo na primeira orelha do livro, transmitindo-nos uma transformação que veio da dor e se espalhou em forma de poesia. Ela diz:
“Abandonaram-me / No escuro, / E ali descobri o meu lar. / Adaptei-me ao brejo / E fiz das trevas / Um lugar para morar.”
E o poema que abre o livro reflete bem essa ideia de transformação e liberdade, levando-nos à conclusão de que se trata de um livro cujas revelações poéticas são de superação. Destaco estes versos: “Quando seu coração / Te chamar, / Você irá escutar / Uma voz junto ao vento / Para você sussurrar: Você é selvagem / E livre.”
De beleza sombria e rompendo as correntes da submissão, Indy Sales mostra que encontrou nas sombras da dor a liberdade tão almejada, e nela fez morada com seu manto de trevas protegendo sua alma. A forma como sua poesia transmite sua mensagem é tranquila, e desperta a atenção do ouvinte. É como se ela segurasse nosso rosto com as mãos ensanguentadas e falasse calmamente o que aprendeu, nos ensinando a ver as sombras e tomar cuidado com a violência. Uma tranquilidade cadavérica, morta, sombria. As pausas de um verso para o outro são um exemplo de como ela consegue manejar as palavras, explorando um mundo de escuridão habitado por monstros que não nos querem bem; e a eles ela se entrega! Ela faz parte desse mundo, agora tomado como seu, e presente em seu espírito de forma profunda e gigantesca. E cada verso nos chama a atenção para o próximo, revelando o que está por vir, de forma gradual, e em doses cada vez mais venenosas.
O poema “Espinhos” foi um dos que mais me chamaram a atenção nesse livro. Os primeiros versos já revelam o que muitos leitores esperam encontrar numa poetiza gótica: “Se me der uma rosa / Farei poemas / Sobre espinhos”. E seria apenas mais do mesmo se não fosse por um pequeno detalhe: Indy explica, verso por verso, o que ela quis dizer logo no início. É como uma pequena ideia que vai se desenvolvendo com sua filosofia de vida. Nesse caso, ela se encontra; pega as influências ao redor e as transforma em trevas, porque é isso o que tem dentro dela, e é o que ela enxerga ao redor justamente por ter essa escuridão como uma experiência que a possuiu. A inspiração poética é como uma alquimia que a faz enxergar claramente nas trevas, e através da poesia ela transmite sua mensagem aos leitores.
Meu poema preferido nessa obra é “Consciência” (página 54). Esse texto impressiona por conseguir, de forma tão simples, expor a consequência que o lado negativo gera nos próprios indivíduos que prejudicam o próximo com seu negativismo, e eu preciso compartilhar aqui:
O mundo está em paz,
É você quem está
Em guerra...
Pense nisso.
Os pássaros
Que cantam,
E o vento que sussurra...
Nada mais.
É o peso
Da sua consciência,
Que não te deixa
Dormir à noite.
Quem sofreu o mal,
Criou asas e voou,
Ficou maior
Que o abismo
Que você deixou.
Mas você, amigo
Estará sempre preso,
No mal que causou.
Recomendo a leitura desse livro a todos que apreciam uma boa poesia, cheia de sombras e ensinamentos. Pode ser adquirido direto com a autora através de seu Instagram - @indyssales
A autora é de Ouro Preto (MG). Escreve poesia desde os 10 anos de idade, e em sua escrita percorre várias temáticas, mas sua grande paixão é o horror gótico.
